[MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [APLAUSOS] A palavra capoeira tem algumas teorias de onde ela vem. Uma delas, que é a mais conhecida, que é conectada com a história do Brasil, com a história da escravidão no Brasil. Capoeira aqui é mato rasteiro, quando você tem uma mata ou você tem uma floresta, você passa o biscó, passa o facão e você vai abaixando aquilo, aquele mato e vai fazendo uma capoeira. E existem as teorias dizendo que pessoas que assistiam negros se expressando com dança, com dança combate, se reunindo; eles se reuniam nessas áreas abertas. Então você tem uma mata, você tem volta de uma casa, de uma região, você limpa terreno e aquele terreno passa a ser uma capoeira. Então tem gente que diz que ali eles praticavam as danças deles e tem gente que diz que exatamente quando existiam fugas de escravos, eles lógico que o primeiro lugar que eles corriam seria a estrada. Mas eles entravam por dentro da capoeira para poder passar a capoeira e entrar por dentro da mata E ali se esconder, partir para outra vida e fugir. Também o nome da capoeira é identificado no século XIX no Rio de Janeiro com negros vendedores; começo do século XX também e século XIX. Negros que iam para rua, já negros libertos, alforriados ou que compraram sua própria alforria, com grandes cestas, eram os balaios de palha. Muitas vezes tinham galinhas dentro para serem vendidas. Esses cestos eram chamados de capoeira. Então nossa orquesta na capoeira Angola é chamada de bateria. Na nossa bateria a gente usa vários instrumentos e o instrumento que comanda a roda, que a gente diz que é o mestre da roda é o gunga. Ele vai dar o andamento, ele vai dar o sentimento, ele vai determinar as regras até dos jogos que acontecem. O berimbau é arco musical da famÃlia da harpa. E é isso. Vamos lá. [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] Nessa orquestra a gente usa dois pandeiros. É a nossa herança árabe eu acho, trazida pelos portugueses e o que for. Mas são os pandeiros da capoeira Angola. O toque tradicional ele acompanha o berimbau. [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] O agogô, que a gente chama aqui no Brasil, ele já entra com a melodia. Ele repercute mas ele traz notas e tem que estar afinado porque o berimbau também tem que estar afinado. O agogô vai assim. [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] A gente tem outro instrumento da nossa bateria de capoeira Angola. Ele foi na verdade incluÃdo nessa bateria pelo mestre Pastinha, que é dos mestres mais famosos de capoeira Angola do século passado, começo do século passado. E ele introduziu o reco-reco na bateria de capoeira Angola da escola dele. Então a gente utiliza também o reco-reco na nossa bateria de capoeira Angola e é dos meus preferidos. [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] Na capoeira Angola, quando você canta o Paranauê, você vai trazer para roda não só aquilo que você observa nos versos, mas os versos tradicionais. Então a gente tem uma sequência de versos improvisados, aprendidos que a gente canta primeiro no Paranauê para depois você criar os seus versos conforme a situação que está sendo vivida naquela roda. Então é inclusive uma forma de falar português diferente, que não é tão contemporânea né? Ave Maria meu Deus Paraná se eu chegar nessa aranha, Paraná. Paranauê, Paranauê, Paraná. Passo quem não quer querer Paraná, quem não tem pé caminhar, Paraná. Paranauê, Paranauê, Paraná. Esse é verso O tradicional faz parte dessa sequência, mas depois você está livre para versar dentro dessa métrica e desse sentimento dos versos tradicionais com as melodias tradicionais. A cantiga Paranauê, ela tem uma melodia base, que o coro acontece e repete. Que é: "Paranauê, Paranauê Paraná. Paranauê, Paranauê Paraná." O que a gente ouve, a gente estuda, a gente vê, é que há 100 anos atrás, dentro de uma roda de capoeira espontânea, acontecia o verso com a melodia base, mas que várias pessoas naquela roda traziam melodias também, terças, ou outros tipos de frases que adicionavam e que faziam grande arranjo vocal espontâneo, sem ensaio, naquele universo. Hoje dia, aqui na minha academia, eu sendo cantadora de capoeira há tanto tempo num universo masculino, porque a capoeira sempre foi num universo masculino e agora mais e mais a gente tem a presença das mulheres e o canto feminino, você tinha uma diferença de tonalidades que, muitas vezes quando você cantava dentro de tom para a maior parte das pessoas responderem na roda, essas pessoas eram homens. Então não era uma zona confortável para a mulher cantar e vice versa. Então quando você puxa isso na roda, você tem que atingir tom que seja confortável para a maior parte das pessoas. Hoje dia a gente começa a compreender que você cantando a base até num tom masculino, isso permite com que as mulheres possam estar, ou outros homens, possam estar criando, oitavando, ou criando outras vozes para cantar por cima dessa base. Eu, por exemplo, cantaria, se fosse eu, eu cantaria dessa forma: "Paranauê, Paranauê Paraná. Paranauê, Paranauê Paraná. Paranauê, Paranauê Paraná. Paranauê, Paranauê Paraná." Essa é a forma que eu canto do Paranauê. Existem outras frases: "Paranauê, Paranauê Paraná. Paranauê, Paranauê Paraná." [MÚSICA] Isso é uma das vozes, que com certa facilidade, você vai encontrar. A orquestra e o coro da capoeira fazendo acontecer quando a música Paranauê é cantada. Ser mulher na capoeira, e ser mestre de capoeira, nesse momento no mundo, é pouco mais fácil, mas na verdade a nossa estrada não é tão fácil. A gente tem que superar algumas questões. Eu acho que a presença da mulher no mundo da capoeiragem indubitavelmente vai acompanhar a presença da mulher na nossa sociedade. Eu acho que a roda de capoeira passa a ser espelho da comunidade. Aqui na minha academia esse espelho vai sempre refletir a presença da mulher. Os meus alunos aqui e os meus alunos mais antigos são homens, mas eles já estão mudando a história da capoeira, porque quando perguntarem a eles com quem ele aprenderam, eles vão falar que aprenderam com uma mulher. E vão lembrar que essa mulher já teve duas filhas. E que ela já deu aula de capoeira com a blusa levantada e uma filha no seio amamentando. Mudou muito, está crescendo junto com a sociedade, mas existem os problemas e hoje a presença da mulher é super bem vinda e aceita vários lugares, convivendo com essa diferença e com esses problemas.